domingo, 15 de abril de 2012

COLUNA

Todas as manhãs de domingo, um senhor gentil e educado, de cabelos brancos e um pequeno chapéu, aguarda pela ligação de sua filha – pontualmente – diante de um orelhão perto de minha casa, geralmente neste, cada vez mais raro instante, que tiro para ler jornais, alguma revista ou livro.

É uma espera certa, cravada de confiança, compromisso e certeza que o telefone vai tocar. E toca mesmo. Assim se passaram dezenas de domingos, dezenas de chamadas, muita conversa, muito de pai e filha.

A ligação será às 10h, como sabido, como tem sido, mas já começou desde o acordar, talvez uma já começa quando a outra nem mesmo se finda.

O telefone toca, encerrando a ansiedade daquele homem (e a minha também), a alegria e o sorriso que brotam de sua alma, atropelam as palavras, invadem seu rosto e a rua inteira, por instantes ele apenas sorri, maior sorriso do mundo.

Orelhão ao lado, ansiedade, carinho, amor, zelo, dedicação, atenção, todos o acompanham nesta hora, e mesmo sozinho nesta rua calma e quase deserta, sobra pouco para mais alguma coisa. A conversa flui, mas neste cenário, a conversa é o que menos importa, a resposta à espera já preencheu todo o espaço, todas as linhas, tudo que foi já escrito e sonhado pela alma humana.

Este homem – como muitos pais, muitos filhos e muitos daqueles que se amam – se alimenta de pão, água e dos telefonemas nas manhãs de domingo. Amém.


imagem: Google